quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Uma vida em flash


Eram 17:45 do dia 9 de Maio. Mais um dia de trabalho terminado.
Entrei no elevador panorâmico. Pressionei o botão para o rés-do-chão. 
O elevador fechou-se atrás de mim.
Uma vista fantástica a daquele  13º andar.
Até ao rés do chão a minha vida passou em flash, como se tivesse durado alguns segundos. Apenas o tempo da descida.
Nesta viagem de segundos, vi-me apaixonada pela primeira vez, criança ainda, o amargo de  um oceano pelo meio, as longas horas de soluços e dores de barriga de uma menina de onze anos apenas. Ele era o actor mais bonito da série de televisão a que assistia todos os dias ao fim da tarde.
Recordei os tempos felizes e despreocupados da minha infância e juventude, os sobressaltos e aventuras atrevidas, as ilusões e castelos construídos em solos movediços e traiçoeiros.
Recordei o auge da minha existência e passagem por este lado da vida, experiência só possível a quem tem o privilégio e a bênção de ser mãe.
Por aqui me detive, como quem encontra a cabana ou o refúgio mais auspiciado perante a maior e mais violenta tempestade.
Neste recanto me aconcheguei. Recusei-me a sair dele.
O elevador parou. A porta abriu-se. Era tempo de sair.
Tempo de enfrentar a rua fervilhante de gente, de barulho, de sol, de vento, … de rumar ao meu recente mundo de novo. De pôr os pés naquela paisagem fantástica que havia visto lá do alto. E regressar. Regressar a casa. Agora mais vazia.
Maria Adelaide Santos

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