terça-feira, 2 de agosto de 2016

Portus Cale

Já ouviram falar de "fazer sentido"?
Hoje fez sentido.
Assim como um aconchego cá dentro, algo a dizer: "É isso!" É isto.
Um certo perfume azul e doce, coroado de coragem e beleza: Portus Cale!
Guardado depois de escrito e dito, hoje é partilhado, é publicado.
Na altura chamei-lhe "Uma cidade, um rio", hoje, resolvi baptizá-lo de: "Portus Cale". Faz mais sentido. Faz todo o sentido.
 
De olhos postos ao vento, assim como quem busca um horizonte,
ela desceu a colina, desde o alto da Penaventosa até ao rio.  
Lá em baixo, o Douro esperava-a, translúcido e calmo,
com a certeza de que ela seria, para sempre,
o seu porto de chegada rumo a um porto de partida: “Portus Cale”.

Ao de leve, banhou-lhe os pés e segredou-lhe a sua beleza.
Enamorados e felizes, ali mesmo prometeram amor eterno:
ele, prometeu protegê-la e abrir-lhe portas ao mundo;
ela, assegurou-lhe lealdade, entrega, força e coragem. 
 
E assim, segura e apaixonada, a cidade cresceu,
fez-se mulher, justa e valente,
deu à luz homens e mulheres audazes,
navegadores, poetas, artistas, cantores, …
gente pura e justa que luta pelo que quer,
que defende e dá o que tem
e que inventa o que não tem.
Das tripas faz coração e é com o coração que ama,
que aconchega, que recebe, que partilha.

E temos tripas, e pontes, e escadarias e fontes,
Calçadas a pique, sardinha assada pelo S. João,
Mulheres ladinas com cachopos pela mão.
E temos barcos e igrejas, palácios e tascas,
Gaivotas que gritam no eco das ruas,
E a Francesinha, o Bacalhau e as iscas,
E o arroz de tomate,
E este sol sobranceiro que neste rio de esbate.
És Porto, és Gente, és Coração que bate!


 Maria Adelaide Santos