Nas páginas 304 e 305, assinando como Maria Santos, escrevi assim:
Falta-me o tempo para sonhar.
Falta-me o tempo para sentir,
para escutar o vento,
para me deitar na relva, esticar um braço
e tocar o céu, agarrar as estrelas,
ou pegar na Lua
e levá-la comigo.
Falta-me o tempo para amar.
Falta-me o tempo.
E eu já tive tanto tempo!
Mas andei a entupi-lo.
Entulhei-o com banalidades.
Crivei-o de buracos vazios,
ocos de essência,
de mórbidas horas de desleixo, ...
de fantasmas e sombras.
Agora, o meu tempo mirra enquanto durmo.
Acordo cada dia mais cedo,
agarro-o com as duas mãos,
cerro-as com toda a força,
mas ele escorre-me pelos dedos,
gota a gota,
e esvai-se a meus pés.
Alguém tem tempo para dar?
Tempo para vender?
Um pouco que seja…
É que já tenho pouco tempo.
E tenho medo de não ter tempo
para abraçar o quanto quero
e me deixar abraçar o quanto sonho.
Para amar o quanto posso
e me deixar amar o quanto preciso.
Para beijar quem me apetece
e deixar-me beijar por quem desejo.
O Tempo, esse impiedoso vadio
abandona-me durante a noite,
e de dia não me basta.
Deixa-me este vazio
e esta saudade de o ter por perto.
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