Eram
17:45 do dia 9 de Maio. Mais um dia de trabalho terminado.
Entrei
no elevador panorâmico. Pressionei o botão para o rés-do-chão.
O
elevador fechou-se atrás de mim.
Uma
vista fantástica a daquele 13º andar.
Até
ao rés do chão a minha vida passou em flash, como se tivesse durado alguns
segundos. Apenas o tempo da descida.
Nesta
viagem de segundos, vi-me apaixonada pela primeira vez, criança ainda, o amargo
de um oceano pelo meio, as longas horas de soluços e dores de barriga de
uma menina de onze anos apenas. Ele era o actor mais bonito da série de
televisão a que assistia todos os dias ao fim da tarde.
Recordei
os tempos felizes e despreocupados da minha infância e juventude, os
sobressaltos e aventuras atrevidas, as ilusões e castelos construídos em solos
movediços e traiçoeiros.
Recordei
o auge da minha existência e passagem por este lado da vida, experiência só
possível a quem tem o privilégio e a bênção de ser mãe.
Por
aqui me detive, como quem encontra a cabana ou o refúgio mais auspiciado
perante a maior e mais violenta tempestade.
Neste
recanto me aconcheguei. Recusei-me a sair dele.
O
elevador parou. A porta abriu-se. Era tempo de sair.
Tempo
de enfrentar a rua fervilhante de gente, de barulho, de sol, de vento, … de
rumar ao meu recente mundo de novo. De pôr os pés naquela paisagem fantástica
que havia visto lá do alto. E regressar. Regressar a casa. Agora mais vazia.