Hoje fez sentido.
Assim como um aconchego cá dentro, algo a dizer: "É isso!" É isto.
Um certo perfume azul e doce, coroado de coragem e beleza: Portus Cale!
Guardado depois de escrito e dito, hoje é partilhado, é publicado.
Na altura chamei-lhe "Uma cidade, um rio", hoje, resolvi baptizá-lo de: "Portus Cale". Faz mais sentido. Faz todo o sentido.
De olhos
postos ao vento, assim como quem busca um horizonte,
ela
desceu a colina, desde o alto da Penaventosa até ao rio.
Lá em
baixo, o Douro esperava-a, translúcido e calmo,
com a
certeza de que ela seria, para sempre,
o seu
porto de chegada rumo a um porto de partida: “Portus Cale”.
Ao de leve, banhou-lhe os
pés e segredou-lhe a sua beleza.
Enamorados
e felizes, ali mesmo prometeram amor eterno:
ele,
prometeu protegê-la e abrir-lhe portas ao mundo;
ela,
assegurou-lhe lealdade, entrega, força e coragem.
E assim,
segura e apaixonada, a cidade cresceu,
fez-se
mulher, justa e valente,
deu à
luz homens e mulheres audazes,
navegadores,
poetas, artistas, cantores, …
gente
pura e justa que luta pelo que quer,
que
defende e dá o que tem
e que
inventa o que não tem.
Das
tripas faz coração e é com o coração que ama,
que
aconchega, que recebe, que partilha.
E temos
tripas, e pontes, e escadarias e fontes,
Calçadas
a pique, sardinha assada pelo S. João,
Mulheres
ladinas com cachopos pela mão.
E temos
barcos e igrejas, palácios e tascas,
Gaivotas
que gritam no eco das ruas,
E a
Francesinha, o Bacalhau e as iscas,
E o
arroz de tomate,
E este
sol sobranceiro que neste rio de esbate.
És
Porto, és Gente, és Coração que bate!
Maria Adelaide Santos