quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Amores clandestinos





Nunca como hoje, o mar se uniu ao céu de forma tão cúmplice.
Era como se céu e mar fossem um só e, assim misturados, tocassem nas rochas, as contornassem, se estendessem e viessem desfazer-se em movimentos de espuma aos meus pés.
Sabemos que o mar vive, há séculos, um amor intenso e eterno com a areia. Porém, como qualquer homem, perde-se em namoros com a brisa, com uma chuva miudinha, com a Lua, ... numa ânsia por uma nova conquista, pelo sabor secreto e oculto da sedução.
Mas ele volta. Ele regressa a cada segundo, com um abraço terno, um segredo sussurrado, um cântico envolvente e arrependido que extingue a traição e lhe devolve a sua amada.
E ela acredita. Ela abafa o desgosto.
E voltam a amar-se, continuamente, ora em frémitos intensos e possantes, ora em jeito calmo, terno, suave e tranquilo, como só ele sabe e ela gosta.
Mas hoje, hoje o mar uniu-se ao céu.
Será que anda a cortejar alguma estrela?
Se a areia descobre, vai ter de matar mais um desgosto. É que as estrelas são lindas. E brilham, brilham e brilham sempre que lhes apetece.
Maria Adelaide Santos

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