domingo, 23 de novembro de 2014

D. Luís - a ponte

O vento cortante da tarde tinha dado lugar a uma aragem fresca e a noite vestira-se de luzes e reflexos  suaves.
O rio corria muito calmo, silencioso, dir-se-ia que não queria descer.
Pudera, a noite estava tão linda! E, na ponte, havia uma presença nova: uma visita inesperada.
Quem será? Perguntou-se o rio, no seu pensar agitado de quem costuma passar a correr, sempre a correr, no mesmo sentido, sem olhar para trás. E agora corria brando, extasiado, a olhar para cima.
Viu-a caminhando, saboreando cada passada, feliz, respirando toda aquela noite e todas aquelas luzes que, entretanto, se tinham acendido para a receber.
Pela primeira vez na sua vida ela estava a atravessar, a pé, aquela ponte, ao sabor do vento fresco da noite e do rio que a acolhiam e se esmeravam em luz e em melodia de boas vindas.
A primeira imagem que registou foi a de uma cidade suspensa nas margens. Suspensa em colunas de luz que mergulhavam nas águas à procura de um suporte forte que segurasse aquela cidade crepitante de vida.
Ali, naquele lugar, desejou abraçar o ar, abraçar a noite, abraçar a vida, … mas, acima de tudo, apeteceu-lhe abraçar abraços a braços. Resistiu. Continuou a caminhada.
A outra margem esperava.
Cruzou o rio, de um lado ao outro.
E ouviu. Ouviu histórias de gente que ama e que celebra o amor, que celebra a vida, que se entrega à verdadeira arte de viver e de amar.
Nesse momento, uma vez mais, desejou abraçar abraços a braços.
Olhou ao seu lado e, … foi possível.
Era a primeira vez que sentia a ponte debaixo dos pés, a pé e abraços a braços.

Maria Adelaide Santos

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